
ENTRE MUROS
R. Projetada 2 - Jabutiana
A sensação de insegurança impulsiona cada vez mais a construção de condomínios fechados. Muros altos, portarias, cercas elétricas, câmeras de vigilância...Tal qual os castelos medievais, a tendência é criar verdadeiras cidades muradas em que seus habitantes circulam tranquilamente sem preocupação com o que acontece do lado de fora. No entanto, esse tipo de construção destrói qualquer relação dos moradores com a cidade e traz ainda mais insegurança para os espaços públicos. Um exemplo disso é a multiplicação de ruas inóspitas em que o pedestre tem que percorrer mais de 200 metros rodeado por muros sem possibilidade de contato com outras pessoas.
Normalmente associamos segurança nas ruas com rondas policiais. Mas de acordo com Jane Jacobs, em seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades, uma cidade segura é feita pelo movimento de pessoas nos espaços públicos. Uma rua que promove a circulação de pessoas em diversos horários do dia inibe a violência. Afinal, se há mais gente por perto temos, no mínimo, a quem pedir ajuda. Apesar dos impactos negativos na vizinhança (como auto-segregação e exclusão social) atingir a todos, o sentimento de insegurança afeta mais as mulheres pois esbarra em outro problema grave no Brasil: o assédio e violência contra mulheres em espaços públicos. Segundo pesquisa da ActionAid, metade das mulheres entrevistadas no Brasil já foram seguidas nas ruas, 44% tiveram seus corpos tocados e 8% foram estupradas. Não é coincidência que 70% das mulheres sentem mais medo de serem assediadas ao andar pelas ruas e 69% ao sair ou chegar em casa depois que escurece.
O ideal é que haja nos bairros um equilíbrio de atividades como residências, locais de trabalho, comércio e serviços. O combate ao assédio e violência contra mulheres em espaços públicos demanda várias outras medidas, mas mudanças nas políticas urbanas podem contribuir fortemente para que mulheres desfrutem plenamente das cidades em que vivem.